Andréa Meira Lima Peres
Bianca Gusmão
Gabrielle Nonato
José Ricardo Odilon dos Santos
Valdete Aparecida Luiz
Vanessa Lino de Souza
Trabalho de Conclusão do Curso de Pedagogia - 2013
Faculdade Anhanguera - Campus Aliberti
Professora Orientadora Maria da Penha Tessarini
“Os livros que tem resistido ao tempo são os que possuem uma
essência de verdade capaz de satisfazer a inquietação humana por mais que os
séculos passem.” (Cecília Meireles).
Resumo
O presente artigo busca enfatizar a importância da
valorização de se trabalhar a literatura infantil por educadores e professores
na formação dos alunos desde a pré-escola. Entendemos que o uso da Literatura
Infantil visando somente à habilidade de leitura, não seja adequado para que no
futuro essa criança venha a se tornar um leitor crítico e competente. Pois, o
bom leitor é aquele que se envolve, interage com a obra, encontra significado
quando lê, procura interpretar o texto e relacionando-o com o mundo ao seu
redor, e por fim, construindo e elaborando novos significados do que foi lido.
Desse modo, fazendo com que o ato de ler contribua, ativa e significativa, no
exercício da cidadania e no desenvolvimento intelectual, não só do indivíduo,
mas da sociedade da qual ele faz parte. Para isto não basta apenas que o livro
seja agradável e atraente aos olhos, é necessário que ele tenha bom conteúdo,
seja bem estruturado e que o professor ou educador tenha o devido preparo e
comprometimento com a tarefa de encantar os alunos com o maravilhoso mundo
encantado da leitura.
Abstract
This article seeks to emphasize the importance of valuing
of working children's literature by educators and teachers in the education of
students from kindergarden. We understand that the use of Children's Literature
aiming only for ability of reading, ain’t suitable for this child become a
critical and competent reader in his future. Because, the good reader is that
one who is engaged, and interacts with the book, finding a meaning when
reading, triyng to interpret the text and relating it to the world around him,
and finally, building and developing new meanings of what had been reading.
This way, making the act of reading contributes in an active and significant way
in the exercise of citizenship and intellectual development, not only of
himself but for society of which his took part. For this it is not enough the
book is just pleasing and attractive for the eye, it must have good content, it
must be well structured and the teacher or educator must has the proper
training and commitment to the task of delighting students with the wonderful
fairyland of reading .
Agradecimentos
Aos nossos familiares que em
todos os momentos nos apoiaram, nossos Mestres e Professores que partilharam
seus conhecimentos e experiências tão importantes conosco, aos nossos amigos
que dividiram emoções por todos esses semestres, e com os quais encontramos
ânimos e animamos também a seguir em frente, nosso muito obrigado.
"Enquanto os rios correrem para o mar, os montes
fizerem sombra aos vales e as estrelas fulgirem no firmamento, deve durar a
recordação do benefício recebido na mente do homem reconhecido."(Virgílio)
Em especial à professora Maria da Penha Tessarini, que fez muito mais do
que deveria no dever de nos orientar nesse trabalho de conclusão, pois tamanho
foi o seu comprometimento e amor à docência, queremos expressar nossa mais
profunda admiração e esperança de que um dia possamos lhe proporcionar o
orgulho e a satisfação em dizer ao mundo que fomos seus alunos.
“Um grande professor
tem pouca história para registrar, sua vida se prolonga em outras vidas.
Pessoas assim, são pilares nas estruturas de nossas escolas, mais essênciais
que seus tijolos e suas vigas.” (Clube do Imperador, 2002)
1.
Introdução
Por
muito tempo na história a criança não teve propriamente uma infância adequada, pois
ela era considerada no início de sua vida um estorvo e se sobrevivesse aos
primeiros anos, recebia o mesmo tratamento reservado aos adultos, já que era vista
como um tipo de adulto em miniatura, tendo o seu valor mensurado e estipulado
pela família a qual pertencia, dependendo de seu grau de parentesco e bens que
herdaria.
A
partir do século XVIII, na Europa, com a sociedade em processo de modernização,
a criança passa a usufruir da sua real condição de um ser frágil, desprotegido
e dependente de cuidados da parte dos adultos e com necessidade de espaços e
cuidados especiais para um desenvolvimento adequado e, de materiais próprios
que atendessem a esse objetivo. Assim formaram-se as escolas e surgiu junto com
elas um mercado direcionado a essa público, visando sempre a valorização da
infância e a formação de laços de afetividade.
Dentro
de todo esse contexto nasceu uma literatura voltada ao público infantil que,
antes, tinha apenas os clássicos livros, lidos por adultos, como possibilidade
de cultura literária.
Ao
conhecer um pouco mais sobre a história e o progresso alcançado pela literatura
infantil até a atualidade, estaremos aptos a observar não apenas a sua
importância, mas o quanto é imprescindível a sua contribuição tanto na formação
cultural quanto acadêmica de uma criança.
As
obras literárias (principalmente quando estamos tratando de romances, contos ou
crônicas) retratam, em sua grande maioria, a realidade vivenciada pela
sociedade de onde a criança faz parte, sua história, seu folclore, seus
costumes entre outros fatores que fazem com que o leitor mirim se identifique
com o enredo e inflamando, por assim dizer, cada vez mais a sua curiosidade em
adquirir mais obras para si.
Durante
esse trabalho poderemos perceber que a identificação do público infantil com
esse tipo de literatura se dá não somente por conta das histórias contadas,
mas, por conta da linguagem adotada pelos autores que vem se aproximando cada
vez mais da linguagem das crianças, facilitando o entendimento de seu conteúdo.
O
que cremos é que essa combinação de fatores, que não só levam a literatura
infantil a alcançar sucesso de vendas é responsável, inclusive, se bem
trabalhada desde tenra idade, pela formação de leitores proficientes e críticos
em vida adulta.
2.
UM
BREVE HISTÓRICO DA LITERATURA INFANTIL
2.1. SURGIMENTO DA LITERATURA
O
ser humano foi feito para viver em sociedade e isso é incontestável. Desde o
início de nossa história, a raça humana tem compartilhado não só o mesmo teto e
as descobertas originadas dessa convivência, mas tem mantido seu registro
histórico para a continuação de sua espécie.
O
ato de contar histórias é inato ao ser humano, fato comprovado nas paredes de
diversas cavernas espalhadas pelo mundo, onde se pode observar a existência da
chamada arte rupestre, que são os desenhos em que o homem primitivo registrava
as suas caçadas, os seus costumes, a sua existência.
A
necessidade de contar à geração futura o que ocorreu antes de sua chegada
alia-se, fortemente, ao desejo dessa geração em saber o que houve antes do seu
surgimento, atitude que cria, em ambos lados, um forte laço de reconhecimento
de que todos fazem parte de uma família, de uma comunidade.
Além
de reforçar essa ligação, as histórias também eram usadas para ensinar os mais
jovens, além da sua origem, todo o conhecimento gerado sobre as ciências e as
descobertas que contribuíram na formação da sociedade civilizada.
2.2. LITERATURA INFANTIL NA EUROPA
Antigamente
não havia essa preocupação com literatura infantil ou literatura de adultos
porque, até então, a criança era vista como um adulto em miniatura possuindo,
inclusive, o mesmo tratamento.
Uma
das principais e importantes fontes nesse universo letrado era a literatura
grega, que até hoje tem um papel fundamental na história da literatura
ocidental, com obras importantes como os seus poemas épicos, as suas
contribuições valiosas no campo da poesia lírica, filosofia, história,
medicina, entre outros. Todas essas obras, porém, partilhadas com as crianças
eram usadas com o claro objetivo de educar e de passar adiante a cultura do
povo, bem como seus valores morais.
Na
segunda metade do século XVII, surgem autores célebres como Jean La Fontaine
(1621 – 1692) e Charles Perrault (1628 – 1703) cujas obras permanecem
encantando crianças por várias gerações.
A
autora Nelly Novaes Coelho (2010, p.83) menciona que dentre as contribuições de
La Fontaine as mais famosas são as fábulas cheias de ensinamentos por trás de
historietas onde os animais são as personagens principais. Algumas dessas
fábulas são: “O Lobo e o Cordeiro”, “O Leão e o Rato”, “A Raposa e o Galo”, “A
Galinha dos Ovos de Ouro” entre outros.
Já
no caso de Charles Perrault, (Coelho, 2010, p.91) suas obras tomaram forma de
histórias redigidas em prosa e de forma ingênua agradando tanto as crianças
quanto aos adultos e, conhecidas, hoje, como conto de fadas. Histórias essas
que antes eram contadas de mãe para filha e que foram reunidas por ele num
livro intitulado “Contos da Mãe Gansa”
publicado no ano de 1697, possuindo oito contos:
1. A
Bela Adormecida,
2. Chapeuzinho
Vermelho,
3. O
Barba Azul,
4. O
Gato de Botas,
5. As
Fadas,
6. Cinderela,
7. Henrique,
o Topetudo,
8. O
Pequeno Polegar.
De
acordo com Lia C. D. Albino, décadas mais tarde, no período em que a Revolução
Industrial acontece, por volta do século XVIII, com o surgimento do status
“criança”, dado à parcela infantil da sociedade que antes era vista apenas como
portadores de herança levando em consideração o sistema medieval que ainda
tinha seus remanescentes nessa época, a população infantil passou a ter a sua
importância afetiva valorizada e a ser considerada como um ser fragilizado e com
necessidade de proteção, logo, tudo que se destinava a esse público passou a
ter um tratamento especial e foi partindo dessa necessidade que surgiram as
primeiras escolas, ambientes em que os pequenos eram agrupados, por um período
de tempo, longe do convívio dos demais adultos, mas que pudesse servir de
mediação entre um e outro.
De
início eram utilizadas nessas escolas, como material didático, as fábulas, os apólogos,
os contos maravilhosos e outras obras cujas fontes eram as literaturas
clássicas universais produzidas para adultos, que como já dito antes, foram
escritos com forte apelo didático-pedagógico dando grande ênfase à moral, ao
paternalismo e às figuras de autoridade, mantendo sob seu jugo mulher e filhos,
premiando o bom e castigando o que era considerado mau, e que de acordo com os
preceitos religiosos, como conta Cardoso (1991, p.13), considera a criança um ser a se moldar de acordo com o desejo dos que a
educam, podando-lhe aptidões e expectativas.
Quando
o assunto é história infantil que não podem ser deixados de lado os irmãos
Grimm e Hans Christian Andersen.
De
acordo com Coelho (2010, p.148), Jacob Grimm (1785 – 1863) e Wilhelm Grimm
(1786 – 1859) foram os responsáveis por recolherem, com a ajuda da camponesa
Katherina Wieckemann (camponesa de extraordinária memória e grande fonte para
os irmãos Grimm), lendas ou sagas germânicas conservadas por tradição oral
tendo como objetivos principais os estudos literários da língua alemã e a continuidade
do folclore germânico. O resultado desse trabalho surgiu sob a forma de um
livro intitulado “Contos de Fadas para
Crianças e Adultos” (Kinder-und Hausmärchen) que foi publicado entre os
anos de 1812 e 1822, em que algumas das histórias relatadas eram: “A Gata Borralheira”, “Branca de Neve e os
Sete Anões”, “Chapeuzinho Vermelho”, “Rapunzel”...
Já
o que se pode notar de predominante nas obras de Hans Christian Andersen (1805
– 1875) é a busca do “maravilhoso” dentro da realidade que se apresenta por
muitas vezes cruel e violenta como nos conta Coelho (2010, p.158-159). Suas
histórias tentam amenizar essa violência procurando incutir uma exaltação aos
ideais de solidariedade, generosidade e fraternidade, dando voz à essência do
“simples”, da pureza das emoções como é notado em histórias como “A Pequena Vendedora de Fósforos”, “O
Patinho Feio”, “João e Maria”, “O Soldadinho de Chumbo” etc.
2.3. LITERATURA INFANTIL NO BRASIL
A Monteiro Lobato coube a fortuna de ser, na área da
Literatura Infantil e Juvenil, o divisor de águas que separa o Brasil de ontem
e o Brasil de hoje. Fazendo a herança do passado imergir no presente, Lobato
encontrou o caminho criador de que a Literatura Infantil estava necessitando.
Rompe, pela raiz, com as convenções estereotipadas e abre as portas para as
novas ideias e formas que o novo século exigia. (COELHO, 2010, p. 247).
De
acordo com Albino em seu artigo “A
literatura infantil no Brasil: origem, tendências e ensino”, foi por meio
de instituições educativas que, no Brasil, o público infantil obteve os
primeiros contatos com os livros infantis didáticos e literários sendo estes
últimos, basicamente, obras agradáveis aos pequenos leitores com títulos de
histórias fantásticas sobre aventuras e tudo que pudesse interessar às crianças
daquela época, para que fosse traçado um perfil que permitisse aos autores
garantir a continuidade e a atração pelos livros.
Albino
ainda menciona que no final do século XIX com o processo de modernização no
Brasil correndo a todo o vapor e a migração rural para os pólos, cresce a
necessidade de uma educação em maior escala, conceito defendido por
intelectuais, políticos e educadores da época que, embasados pela importância
de uma população letrada, lançam-se em campanhas de alfabetização das crianças
e dos adultos abrindo, desse modo, uma porta para uma produção didática e
literária dirigida especificamente ao público infantil.
Considerado
o criador da literatura infantil
brasileira (Cardoso, 1991, p.44), Monteiro Lobato (1882-1948), além de
jornalista, advogado, promotor e fazendeiro, também possuía uma editora com seu
próprio nome. Sua estreia no universo infantil acontece com a obra “Reinações de Narizinho”, um clássico
até os dias de hoje, seguidos por “O
Sítio do Pica-pau Amarelo”, “O Marquês de Rabicó”, “O Casamento de Narizinho”,
“Aventuras do Príncipe”, ”O Gato Félix”, “Cara de Coruja”, “O Irmão do
Pinóquio”, “O Circo de Cavalinhos”, “Pena de Papagaio”, “O pó de Pirlimpimpim”
e muitos outros que continuam a encantar tanto as crianças quanto aos adultos, é
como diz Drummond citado por Souza (2010, p.14) “Qual bom livro para crianças, que não seja lido com interesse pelo
homem feito?”.
Uma
das maiores criações de Monteiro Lobato foi a personagem Emília, uma bonequinha
irreverente que não teme em dizer o que pensa, que é altamente questionadora e
curiosa como são todas as crianças, e que com ela muitas as crianças se
identificam, e exatamente por não possuir “travas na língua” ela leva o leitor
a pensar, a viajar em seus pensamentos, ideias e divagações a respeitos de tudo
o que ocorre nas histórias possibilitando que elas passem a ter atenuantes, que
o leitor considere outros ângulos, outros pontos de vistas, e não apenas o bem
e o mal como até então era o costume apresentar aos pequenos. Ela induz ao
raciocínio, à curiosidade, ao agir.
Já
na década de 70, com o crescente desenvolvimento da literatura infantil, com a
criação de, segundo Cardoso (1991, p.52) concursos
literários, criam-se prêmios literários de nível nacional. Funda-se a Academia
Brasileira de Literatura Infantil, e com isso foram surgindo centenas de
novos autores e muitos deles com obras tão boas que conseguiram o status de
Literatura Arte como, por exemplo, os autores Odette de Barros Mott, Lúcia
Machado de Almeida e Érico Veríssimo, e dentre suas obras podemos mencionar
respectivamente: “O mistério do escudo de
ouro”, “Aventuras de Xisto” e “Confissões de um Vira-Lata”.
E
como deixar de mencionar, também, autoras como Ana Maria Machado, Ruth Rocha
entre outros que até hoje encantam com suas histórias, que não pararam no tempo
e muito menos deixaram para trás a antiga fórmula para encantar: o mergulho
dentro da criança que há em cada um de nós?
3.
HÁ
UMA LITERATURA INFANTIL?
Cecília Meireles
(1979) coloca a definição de uma literatura para crianças na consideração das
preferências infantis, ou seja, são as crianças que delimitam com sua
preferência o que pode ser classificado como literatura infantil. (Souza, 2010, p.13)
Com o capitalismo a
literatura ganha uma nova roupagem obedecendo ao imperativo das vendas e
resultando em uma grande diversidade de livros, muitas vezes mal escritos e
estruturados em circulação.
Por esse prisma,
muitos estudiosos da literatura infantil, por vezes discordam se realmente há
esse termo, por não conseguirem definir se há uma literatura realmente
infantil, ou um produto comercial.
Em seu livro
Literatura Infantil na Escola, a autora Ana A. Arguelho de Souza comenta esse
fato citando pareceres de grandes estudiosos. Segundo Souza, Benedetto Croce
não concorda que haja uma literatura infantil, pois ele crê que (...)o
sol esplêndido da arte não pode ser suportado pelos olhos ainda débeis da
criança e do adolescente (Souza,
2010, p.11) e para combater essa ideia discriminatória Souza recorre às
opiniões de vários escritores renomados, dentre eles Cecília Meireles (...)que coloca a definição de uma
literatura para crianças na consideração das preferências infantis, ou seja,
são as crianças que delimitam com sua preferência o que pode ser classificado
como literatura infantil... (Souza, 2010, p.13)
De qualquer forma,
fica claro que, o que caracteriza de fato a literatura infantil é a preocupação
em atingir seu público alvo tendo, para isso, utilizado elementos de grande
fascinação para os pequenos, a realidade adulta. Resguardados os cuidados com o
texto bem estruturado e a “boa linguagem”, reivindicados por Drummond, a
literatura infantil manterá não apenas o interesse das crianças, bem como de
adultos que a apreciarem.
Afirma Drummond que,
se resguardados em uma obra os cuidados da boa linguagem, ela poderá ser lida
com vantagem pelas crianças (...) Nesse sentido, parece que a discussão toma o
rumo certo, na defesa de que qualquer obra pode ser indicada e lida por
crianças e adultos, desde que resguardada a “boa linguagem. (Souza, 2010, p.14)
4.
LITERATURA
INFANTIL OU PRODUTO PEDAGÓGICO?
De
acordo com Ruth Rocha em seu livro em conjunto com Ana Maria Machado intitulado
– Contando histórias, formando leitores – e diz:
(...)
a literatura para crianças pequenas (...) deve ser rica não só em detalhes, mas
na própria filosofia de vida que explore as consequências das coisas, que
mostre como tudo o que fazemos tem repercussões variadas, até mesmo resultados
inesperados. (Rocha, 2011, p.39-40).
Lembrando
que as obras literárias dirigidas ao público infantil são nada menos do que
historias originadas da realidade adulta e readaptadas para as crianças
(folclores, clássicos, narrativas orais), pode-se afirmar que intrinsicamente
lazer e pedagógicos andam lado a lado, uma vez que, essas histórias possuem
sempre uma lição contida e que pode ser aplicada de forma sutil ou subliminar.
Por
intermédio de fábulas, contos de fadas, poesias e narrativas que encantam não
somente por sua linguagem simples, embora bem estruturada, podemos ter acesso à
moral que cada uma delas nos oferece e que possibilitam em muitos casos, moldar
e mudar o agir, o comportar-se e a opinião das crianças que se identificam
facilmente pelas personagens e pelo maravilhoso que essas obras lhe
proporcionam, tendo em vista que é por intermédio desses elementos que as
crianças podem experimentar a reflexão sobre a realidade e a fantasia e,
inclusive, se projetar tanto em atitudes como em situações vivenciadas por
elas.
Tomando
conhecimento disto a questão que vem à mente é: “Qual o tipo de leitura é a mais
adequada ao público infantil?”
Hoje,
com o aumento do consumo infantil, o mercado financeiro está com os seus olhos
completamente voltados para essa fatia suculenta da população que tem o seu
poder de influência sob a carteira dos adultos. Pais, mães, avós, tios e
padrinhos estão cada vez mais querendo satisfazer a pequenos caprichos infantis
e uma parcela desses bem feitores, optam em oferecer aos pequerruchos, certos
mimos que lhes acrescentem algum tipo de conhecimento ou que, pelo menos, os
ajudem em tal processo. Dessa maneira nascem variados tipos de materiais
literários e pedagógicos que, muitas vezes, não são adequados ao consumo
infantil se a proposta for cultural, simplesmente por que eles foram criados
visando lucro e não benefícios ao leitor mirim.
Ao
fazer uma análise mais cuidadosa desse tipo de material poderemos notar a falta
de cuidado com a estruturação dos textos, das imagens, das atividades e até
mesmo dos materiais utilizados para sua confecção. Produtos por vezes com baixo
custo para atrair a atenção daqueles com poder aquisitivo modesto e com sede de
instrução e sem o devido conhecimento do que é realmente adequado para o
desenvolvimento cognitivo infantil.
Não confundamos, pois, livros preparados exclusivamente
com o intuito de agradar ao público, de forma indiscriminada e aligeirada, por
detrás dos quais se esconde o vil mercado livreiro, com a literatura produzida
cuidadosamente por grandes escritores, no Brasil e no mundo. (Souza, 2010, p. 16)
A
triste realidade do nosso país é que a boa cultura é um produto caro e de
difícil acesso para a maioria da população que é carente em muitos sentidos e, e
nem todos estão preparados para saber exatamente o que pode ser aproveitado
como lazer ou como produto pedagógico, embora o ideal seja a fusão de ambos, o
que são recorrentes nas boas obras, em sua maioria, inacessíveis por conta dos
altos custos. Um tema muito bem debatido por Ana Maria Machado e Ruth Rocha em
seu livro Contando histórias, formando
leitores, (2010, p. 69-76) capítulo “O livro: preço e valor”.
Voltando
ao tema, lazer x pedagógico, há um ditado popular, muito sábio por sinal, que
diz “nem tanto ao mar, nem tanto à terra”, o equilíbrio é fundamental, mesmo
por que, quando a criança percebe que a leitura trata-se de ensinamento a
tendência é deixar o livro de lado, afinal, ela já tem a escola para isso. A
leitura não deve ser um ato obrigatório, deve ser cultivado desde cedo de uma
forma que se torne prazeroso, relaxante e forneça momentos agradáveis e é
nessas condições que o aprendizado ocorre de forma mais eficaz, de forma
natural, exatamente quando ele não é imposto.
A
união entre a arte literária e o produto pedagógico deve ser um tipo de união
entre o mágico e o lógico, onde teremos como mágico sendo o maravilhoso,
representado pelas fadas, pelos feitiços, pelos castelos, pelos dragões, etc.,
e o lógico sendo a verdade representada pelo mundo o real. Uma sempre
sobressaindo à outra como numa montanha-russa, mas permitindo ao leitor mirim,
de forma lúdica, assimilar a mensagem perfeitamente sem maiores traumas.
5.
LITERATURA
INFANTIL NA SALA DE AULA
Considerando que o gosto pela leitura se
constrói por meio de um longo processo em que sujeitos desejantes encontram
nela uma possibilidade de interlocução com o mundo, espera-se que o professor
seja um agente fundamental na mediação entre alunos e suportes textuais, um
impulsionador e guia, no sentido de um contato cada vez mais intenso e
desafiador entre o leitor e a obra a ser lida. (Souza, 2004, p.81)
5.1. NA EDUCAÇÃO INFANTIL
As crianças de hoje educarão outras crianças amanhã.
São 16 milhões de crianças e adolescentes de 0 a 5 anos
que definirão o futuro do país daqui a 30 anos. Por isso, são importantes os
modelos em que se espelham na infância: adultos que se importam com elas, que
lhes transmitem valores, que contribuem para sua educação. (Itaú Criança, 2013)
Uma
ferramenta muito utilizada, por meio de observações pessoais durante períodos
de estágio em salas de aula é a produção de texto, partindo de alguma ideia ou
simplesmente de imagens oferecidas aos alunos como ponto de partida. É ofertado
a eles a oportunidade de escreverem o que bem lhes aprouver, realidade ou
ficção não importa, mas como fazer o aluno chegar ao ponto de conseguir
expressar-se corretamente numa folha de papel?
Há
um consenso de que antes da escrita a maneira mais eficaz de comunicação e
transmissão de conhecimento era a fala, portanto, seguindo essa linha de
raciocínio supõe-se que uma das incógnitas dessa equação é que o professor deve
em primeiro lugar estimular a criança a expressar a sua opinião sempre que
possível contrariando o método antigo adotado pelo regime autoritarista
escolar. A criança que se expressa com facilidade e sente segurança nesse ponto
possui a tendência, em sua maioria, de aprender com maior facilidade, logo sua
alfabetização poderá ocorrer sem maiores problemas e por consequência sua
capacidade de expressar sentimentos, opiniões e qualquer outro tipo de
informação na forma escrita terá sucesso praticamente garantido.
De
acordo com Rocha (2011, p.92-93), Crianças
e jovens devem aprender a falar. Quem não sabe falar não sabe ler; ou pode até
saber ler, mas não sabe escrever. É necessário ensiná-los a falar. e ainda “O escritor se forma porque é leitor; se não
for leitor, ele não se forma” (2011, p.43). Pensando nesses termos é que
entram como principal ferramenta de apoio na educação os livros, que podem ser
introduzidos no universo infantil desde o berçário. Aqui faz-se referência
àqueles livros almofadados que as crianças podem manusear livremente e que com
o devido uso dos educadores, servirão como estímulo para os pequenos no ato de
prestar atenção nas histórias que serão contadas a eles no futuro.
Crianças
estimuladas pelo manuseio correto de livros desde tenra idade, geralmente,
seguem suas vidas com curiosidade e interesse natural pela leitura desde que
esse estímulo continue a ser ofertado continuamente em sua formação escolar.
A
literatura infantil, hoje, engloba diferentes tipos de contos, desde os
clássicos e tradicionais, que são ricos em detalhes de vivências familiares,
sociais e até mesmo com a natureza viva, até os modernos os quais estão cheios
da cultura popular abordando também a vida cotidiana e suas nuances e dilemas,
porém de maneira simples e sutil, atentando à grande importância desses temas para
a formação dessas crianças e jovens.
Em
sala de aula, o primeiro contato que o aluno terá com a literatura infantil
será por intermédio do educador que o fará como contador de histórias. “Crianças que ouvem a leitura de histórias e
poesias aprendem melhor, desenvolvem sua percepção do mundo, a capacidade de se
expressar e se comunicar com os outros.” (Itaú Criança, 2013). Nesse
momento tudo tem que estar a favor da pessoa que narrará o texto. A luz, o
ambiente, o conforto das crianças e do contador de histórias, tudo isso conta e
o mais importante, a dramatização.
Um
bom contador de histórias deve saber os momentos exatos de fazer algum tipo de
intervenção, de esclarecer alguns acontecimentos, para que os ouvintes possam
detectar os pontos mais significativos daquela narrativa, assim sendo, texto e
imagens se completam num entrosamento perfeito, a alternação de voz, a
gesticulação, a expressão facial são meios de comunicação que também servem não
só para prender a atenção do público infantil, mas para ensinar aos pequenos a
reconhecer pelo olhar algumas situações que eles poderão vivenciar.
Dessa
forma, uma boa obra compartilhada com a classe da forma correta atinge o seu
objetivo tanto no âmbito prazeroso quanto no de construção de laços com essa
atividade criando, assim, conexões entre alunos e livros.
Mas
a leitura não pode ser um ato esporádico, como toda atividade que se deseja
levar para o resto da vida, que se deseja cultivar como hábito, a leitura deve
ser encarada com seriedade e disciplina. Claro que, nesse caso, pelo lado do
educador.
Dentro
da rotina de aula, deve-se criar o momento da leitura que tem de ser, se não
diário, no mínimo três vezes por semana, em ambiente adequado no tocante a
iluminação e livre de barulhos irritantes – se acaso perto da sala houver algum
tipo de conserto, procure levar a classe até a biblioteca, quadra ou espaço
aberto longe do ruído – para que a atenção das crianças não seja prejudicada.
As obras escolhidas devem merecer total atenção, pois pode até parecer que não,
mas a criançada sabe muito bem identificar quando a história é bem escrita.
Procure os bons autores, apresente-os, fale um pouco sobre eles, os pequenos
são curiosos e isso os instigará a querer mais informações a respeito e a não
desperdiçar oportunidades em obtê-las.
Neste
contexto, um auxílio que pode vir a ser muito útil no trabalho da introdução do
hábito de leitura é a família que mesmo estando fora desse universo, dependendo
do desempenho e trabalho desenvolvido pelo educador, pode vir a ajuda-lo colaborando
com doações de livros, com envio de histórias de sua infância e até mesmo com a
leitura de livros que o filho leva para casa por conta das costumeiras “Rodas
de Leitura”.
Quando um adulto lê
para uma criança, oferece a ela o acesso à cultura, ao lazer e à educação. Além
disso, a leitura aproxima o adulto e a criança, transmite-lhe acolhimento e
segurança, fortalecendo seu vínculo afetivo. (Itaú Criança, 2013)
Tudo
isso sendo trabalhado no Ensino Infantil tem como objetivo principal preparar a
criança para encarar o mundo da alfabetização e estimulá-la a ler e a escrever
cada vez mais.
5.2. NO ENSINO FUNDAMENTAL I
De acordo com os
preceitos dos Parâmetros Curriculares Nacionais da Língua Portuguesa (1997, p.
68) que, em síntese, dizem que ao final do Ensino Fundamental I – 1º ao 5º ano
-, “a criança deverá estar apta a ler e
compreender mensagens escritas, retransmitir oralmente e por escrito mensagens
orais ou lidas tomando cuidados com estruturação e ortografia, saber ouvir e
falar considerando e respeitando o outro e os seus diferentes pontos de vistas
e fazendo-se compreender tanto em sentimentos quanto em opiniões por meio de
diálogos e de produzir textos coesos e coerentes previstos para o ciclo”.
Com
base nos Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa e aproveitando
o trabalho iniciado na Educação Infantil agora é hora do professor do Ensino
Fundamental I atuar e, como ele poderá agir para dar continuidade a essa tarefa
tão importante de além da alfabetização, contribuir para a formação de leitores
críticos e competentes por meio da leitura das histórias infantis?
O
principal e mais importante ponto é que o docente tenha plena consciência da
máxima importância da leitura e se predisponha a fazer desta tarefa o
carro-chefe da sua empreitada. Sem esse comprometimento sério e real esse
trabalho estará fadado ao fracasso, pois é dado certo que obtemos sucesso
naquilo que realmente cremos e professamos.
Além
de crer na leitura das histórias infantis como formadora de opiniões, o docente
deve ter o devido preparo para selecionar boas obras que incentive no alunado, a priore
de forma sutil, reflexões sobre fatos corriqueiros, elaborando sempre com eles,
de forma lúdica, rodas de conversas ou atividades que reforcem a ideia central
do que foi lido.
Uma
técnica muito usada, também de acordo com observações feitas em períodos de
estágio, é o uso de livros em que há o predomínio das imagens sobre a
narrativa, dando a oportunidade a quem está lendo de construir a sua hipótese,
o seu pedacinho de história.
Um
exemplo desse tipo de obra é o livro “O
Cavaleiro e o Dragão” de Tomie de Paola (1999), traduzido por Ana Maria
Machado, que conta a história de um cavaleiro que nunca lutou com um dragão e
de um dragão que nunca lutou com um cavaleiro e que no final, após muito
preparo e uma luta desastrada, ambos se unem e abrem uma churrascaria.
Nessa
obra a interferência do autor resume-se a nove dos quarenta e três quadrinhos
apresentados no livro, o que dá uma grande margem de trabalho para o professor
e as crianças que poderão discutir valores como guerra e paz, diferenças e
união com um leve toque de humor. Tudo isso tanto em forma oral quanto escrita.
Aos
alunos deve ser ofertado todo o tipo de literatura para que a chama da
curiosidade seja mantida acesa, a rotina caia por terra e eles tenham a
oportunidade de identificar-se com algum gênero em especial.
Contos,
folclores, poemas e poesias podem e devem ser trabalhados de forma que
incentivem o raciocínio, a criticidade e a criatividade infantil.
Em
geral, o gênero narrativo é o mais trabalhado em sala de aula. De início com o
professor lendo a história aos alunos e aos poucos incentivando a autonomia dos
alunos.
Vasto
é o campo que pode ser trabalhado com o gênero narrativo desde que tomados os
devidos cuidados com a boa linguagem, como anteriormente mencionado por
Drummond, inclusive textos filosóficos.
Temos
como exemplo disso o livro “Elefante?”
de Ruth Rocha (2011), onde a questão central da história era se a personagem
principal, Mári, era uma menina que tinha sonhado que era uma elefantinha que
balançava sua tromba de um lado para outro lado, ou se era uma elefantinha que
estava sonhando que era uma menininha. Uma história que dá o que falar.
“Lino” um livro de André Neves (2011), é
uma história comovente que trata da separação de dois amigos brinquedos e que
pode ser muito útil em ajudar a trabalhar esse tipo de sentimento, a separação,
a saudade, e as amizades antigas e as novas.
Outro
livro que pode ser usado como exemplo para trabalhar emoção é o livro de Chico
Buarque (2011) “Chapeuzinho Amarelo”.
A obra conta a história de uma menina que tem medo de absolutamente tudo, inclusive
de um lobo mau que ela nem sabia se existia. O foco pode ser de onde surge o
medo e para quê ele serve. É bom ter medo?
Em
relação ao medo, como seria tentar algo extremamente novo? Seria difícil?
Complicado? Seria aceito? Esse tema é abordado por Fernanda Lopes de Almeida
(1981) em “A Fada que Tinha Ideias”,
falando sobre uma fadinha chamada Clara Luz que, recusando-se a passar da lição
número 1 dos livros das fadas prefere inventar suas próprias mágicas, causando
vários contratempos para a sua fada-mãe que, por conta das confusões que
acontece, teme a raiva da fada-rainha caso ela venha a descobrir sobre as
artimanhas da filha. O enredo vem privilegiar o culto à criatividade e à
coragem de experimentar o novo, de sair da rotina, da mesmice, como é mostrado,
inclusive, em outro livro de Ruth Rocha (2009), “O Coelhinho que não era de Páscoa”, em que Vivinho, o coelhinho,
não queria seguir os passos dos coelhos da família, ele não queria ser Coelho
da Páscoa, ele queria ser Doceiro e para isso contou com a ajuda de amigos
pouco convencionais para um coelhinho, sofrendo, por parte da família,
preconceito e chacota, mas tendo seu devido reconhecimento no final.
No
caso da poesia, que de início era tratada exclusivamente como recurso didático
para incutir normas de conduta e moral, hoje, graças à contribuição de
Henriqueta Lisboa e o seu “Menino Poeta” (Cardoso, 1991, p.88) há uma poesia
voltada ao universo infantil digna de seu público, escrita com leveza,
ludicidade e sensibilidade que se deve proporcionar quando o enfoque é a
criança.
A
obra “A Arca de Noé”, de Vinícius de
Moraes (2004), reúne, em suas sessenta páginas, poesias e poemas, em que algumas
viraram canções como “A Casa” e “A Foca”, que encantaram e ainda encantam
crianças “de várias gerações”, possui textos riquíssimos, bem construídos,
gostosos de serem trabalhados e fáceis de serem guardados na memória pelos
pequenos que passam a gostar e a incorporar certos termos diferentes em seu
vocabulário.
O
livro “Poesia na Varanda” de Sônia
Junqueira (2012) trata dos sentimentos que a poesia proporciona na personagem
que acaba de descobri-la e desperta o olhar dentro de si, o interpretar-se, o
conhecer-se. O modo como ela encara o que a vida lhe proporciona, tudo para ela
tornou-se uma poesia.
Há
também uma, das muitas, obra de Ruth Rocha (2013) “Bom-dia, Todas as Cores!”, em que a história é basicamente inteira
rimada, dando uma pitada de humor, encanto e leveza ao texto. A história gira
em torno de um camaleão que ao encontrar-se com cada amigo pelo caminho, no
decorrer do dia, faz a vontade de cada um mudando para a cor sugerida por eles
e, chegando ao final à conclusão de que deve primeiro agradar a si, sem
desprezar a opinião dos outros. Pode-se trabalhar o respeito à diversidade e a
identidade de cada um.
O
que, também, pode ajudar no trabalho da diversidade, da identidade e da cultura
de um povo é o contato das crianças com o folclore e para isso há diversos
gêneros, além da poesia, da qual o docente pode lançar mão, como; lendas,
parlendas, mitos, provérbios entre outros.
No
livro de Heloísa Prieto (1997) “Lá Vem
História” há reunido uma coletânea de trinta pequenos contos do folclore
mundial que as crianças poderão ter conhecer, além de contos do Brasil, dentre
eles tem contos do Japão, da China, da cultura Celta, da cultura Viking, da
Irlanda, da Inglaterra, da cultura Judaica entre outros.
Nos
anos iniciais, os livros com ilustrações são muito comuns e usados para
auxiliar os pequenos na construção dos cenários em que a história se
desenvolve, tanto que a eles, nessa fase, pouco interessa os livros com poucas
ilustrações, pois são por meio delas, que eles constroem a ideia do assunto a
que trata a obra.
Essas
ilustrações podem ser simples, contendo figuras que indicam no geral o que está
sendo passado naquela página do livro infantil, ou caso dos gibis, por exemplo,
ela poderá conter os chamados códigos gráficos, que tem como objetivo principal
facilitar a compreensão do texto.
Para
as crianças em início de alfabetização isso é muito importante, pois é com a
ajuda desses códigos que eles conseguem compreender, por muitas vezes, o
significado de algumas palavras e até mesmo conseguir decodifica-las, mesmo que
esses códigos sejam do tipo abstrato como traços ou riscos que indicam pulos,
corridas ou algo sendo jogado para longe, até os mais complexos que são as
mudanças dos tamanhos e das cores das letras que são os indicativos de
sentimentos e das onomatopeias (sons de animais e equipamentos) que ajudam na
ambientação em que a personagem está inserida. Tudo isso aliado às expressões
faciais que não pode ser deixada de lado, oferece ao docente um ótimo material
para o trabalho de observação em todos os sentidos. Lugares, fatos e
sentimentos.
Na
medida em que a alfabetização ocorre os livros com ilustrações vão
desaparecendo como fácil notar nas publicações para as faixas etárias maiores.
As imagens vão diminuindo de acordo com a capacidade do leitor de construir
abstratamente o mundo escrito até ausentar-se completamente, entretanto isso
não significa que o professor não possa continuar usando os quadrinhos como
material de apoio quando houver ocasião oportuna.
6.
A
LITERATURA INFANTIL COMO ABERTURA PARA A FORMAÇÃO DE UMA NOVA MENTALIDADE.
Assim
como a escola é considerada um ambiente propício para provocar uma completa
mudança numa sociedade exatamente por ter como principal responsabilidade a
formação moral e intelectual de seus indivíduos, a literatura é considerada o
fator principal que estimula a mente, permitindo-lhe agir de forma reflexiva e
conscienciosa entre a realidade e a fantasia, entre si e o outro, a exercitar a
criatividade, como expressar-se, a opinar e a agir de forma crítica em relação
à tudo, o que seria na opinião de Coelho (2000) uma condição sine qua non (essencial em latim) para plena realidade do ser.
A Literatura
é uma linguagem específica que, como toda linguagem, expressa uma determinada
experiência humana, e dificilmente poderá ser definida com exatidão. Cada época
compreendeu e produziu literatura a seu modo. Conhecer esse ‘modo’ é, sem
dúvida, conhecer a singularidade de cada momento da longa marcha da humanidade
em sua constante evolução”.(Coelho, 2000)
Ressaltando
que, cabe ao docente decidir em qual momento ele optará em utilizar uma linha tradicional
ou nova de literatura. Essa dualidade reflete exatamente a diferença entre a
sociedade passada e a moderna em que crenças de antigamente deixaram de ter importância
ou caíram no esquecimento ou injustiças que aconteciam foram, finalmente,
postas a termo.
CALVINO
apud COLOMER (2007, p.157) diz:
“Não
se leem os clássicos por dever ou por respeito, mas apenas por amor. Exceto na
escola: a escola deve fazer com que você conheça, bem ou mal, certo número de
clássicos entre os quais (ou com referência aos quais) você poderá reconhecer
depois os seus clássicos. A escola está obrigada a dar a você instrumentos para
fazer uma escolha; mas as escolhas que contam são as que ocorrem fora ou depois
de qualquer escola”.
O
que não pode ser esquecido é que a criança tem características divergentes do
público adulto, ela possui fases de desenvolvimento, de amadurecimento e,
portanto, a linguagem usada na literatura voltada para cada um de seus estágios
deve ser coerente e adequado com a sua realidade, por isso existe a necessidade
de oferecer aos alunos a oportunidade de apreciar todo o tipo de leitura e, se
possível for, multiculturalista fornecendo-lhes o direito de interpretação
individual intermediada pelo educador e confrontada com as opiniões dos
colegas, formando dessa forma uma aula interativa em que exista a possibilidade
de aprender a ouvir e a de expressar-se em momento apropriado respeitando
sempre a liberdade de opinião do próximo.
Ao
entrar em contato com uma literatura infantil de qualidade, tanto crianças
quanto jovens, terão interpretações diferentes dependendo da época em que os
lerem visto que suas realidades mudam assim como seu modo de ver a vida e as
pessoas ao seu redor, porém elas só terão noção disso se tiverem a oportunidade
de praticarem, desde cedo, o exercício da interpretação e do debate sobre o que
foi lido. Se houver a possibilidade de aprofundamento dos temas por intermédio
de pesquisas, redações, trabalhos em grupos, dramatizações, brincadeiras ou
jogos em que os educandos possam vivenciar na segurança do “faz de conta” ou do
jogo da “mentirinha” as situações de conflito e as emoções experimentadas pelas
personagens das histórias. Sendo assim, eles poderão experimentar ambos lados
tantas vezes quantas forem necessárias em diversas situações, poderão sugerir
outros fins, poderão justificar os meios, supor motivos, imaginar alternativas
que impedissem algum conflito, enfim, exercitariam, a liberdade de expressão e
a criatividade na resolução de problemas e crises propostas, por meio de
conversas. Tudo isso partindo de uma leitura proficiente em que não apenas os
códigos impressos são decifrados, mas em sua integralidade compreendidos.
7.
Considerações
Finais
“Quanto
mais cedo a criança tiver acesso à literatura e passar a cultivar o hábito de
ler, mais benefícios serão proporcionados a ela. Segundo o Ministério da
Educação (MEC), a leitura é responsável por desenvolver o repertório do leitor,
ampliar o acesso a informações, ajudar na formação do senso crítico, aprofundar
conhecimentos, melhorar o vocabulário, estimular a criatividade, facilitar a
escrita, além de emocionar e impactar.” (Gil, 2013, p.4)
A
tarefa de formar leitores autônomos e competentes não é fácil, porém é
primordial na educação e para garantir que isso aconteça, além do preparo, da
rotina e de todo o cuidado com a seleção de material de apoio e escolha de
temas deve-se levar em conta o amadurecimento de cada grupo para que o trabalho
seja eficaz e alcance o objetivo.
Os
alunos devem ter a capacidade de compreender a mensagem que está sendo passada
para que possam internalizar os sentimentos ali descritos para depois
expressá-los livremente e, alguns poderão ter dificuldades nessa tarefa. “Aventure-se e leia. Ao ouvir sua leitura, a
criança vai se familiarizando com a linguagem, construindo seu vocabulário e
ampliando sua capacidade de compreender o mundo.” (Itaú Criança, 2013)
A
criticidade exige que o ser humano seja ousado a ponto de expor suas opiniões,
crenças, sentimentos aos que estão em redor e para isso eles devem estar
preparados psicologicamente, emocionalmente e devem ter conhecimento do que vão
discutir para que possam ter poder de argumentação. Esse tipo de situação
consegue-se com o trabalho constante da leitura dentro da sala de aula desde os
primeiros anos da educação infantil com as tão famosas rodas de conversa que as
educadoras fazem para discutir temas como: “O que fizemos no final de semana”,
“Quais são nossos combinados”, “Qual será a história do dia” entre outros.
Além
de apresentar as boas obras, os autores são objetos de estudo muito
interessantes que podem ampliar a visão de mundo dos alunos, suas vidas e
realizações podem ser inspiradoras.
Tanto
a atividade de ler quanto a de compartilhar informações e impressões deve ser
rotineira e comum, o antigo método tradicional em que o professor fica só
falando e o aluno fica apenas escutando não funciona mais para quem quer formar
um cidadão responsável e atuante.
A
realidade é outra, a tecnologia avança numa velocidade estonteante e as
crianças e jovens captam isso de uma forma bem mais eficiente do que os
adultos, logo a educação deve também avançar e deixar de lado o ostracismo e
dar voz aos alunos para que eles possam mostrar e desenvolver todo o seu
potencial. O melhor aluno e por consequência o futuro leitor crítico e
competente, é aquela criança que foi questionadora, aquela que buscou respostas
e teve sede de mais informações.
A
tarefa do educador não é apenas suprir essas necessidades, mas instigar que
esses alunos queiram aprender ainda mais proporcionando elementos que nutram
sua curiosidade natural, esse é o motivo pelo qual essas crianças não podem jamais
se calar, elas devem ser incentivadas a falar, a questionar, a argumentar, a
criticar, a sugerir, a inventar, a criar...
“Crianças e jovens
devem aprender a falar. Quem não sabe falar não sabe ler; ou pode até saber
ler, mas não sabe escrever. É necessário ensiná-los a falar. Aliás, a educação,
até uns anos atrás, mandava a criança calar a boca. Eu acho que, ultimamente,
isso está se modificando. Acho que devemos perguntar coisas para a criança e
deixa-la à vontade para responder, para imaginar, para criar. As boas escolas
fazem isso, deixam a criança se expressar”. (Rocha, 2011, p. 92-93).
Referências
ALBINO,
Lia C.D. A literatura infantil no
Brasil: origem, tendências e ensino. disponível em http://litteratu.com/literatura_infantil.pdf
acesso em 28 de maio de 2013, 11h23.
ALMEIDA,
Fernanda Lopes de. A Fada que tinha ideias. São Paulo: Ática, 1981.
BRASIL,
MEC. Parâmetros
Curriculares Nacionais (1ª a 4ª séries). Brasília: MEC/SEF, 1997, 10
volumes.
BUARQUE,
Chico. Chapeuzinho Amarelo. – 27ª ed. – Rio de Janeiro: José Olympio,
2011.
CARDOSO,
Manoel. Estudos de literatura infantil. 1ª ed. São Paulo. Editora do
Brasil, 1991.
COELHO,
Nelly Novaes Literatura Infantil. 7ª ed. – São Paulo: Moderna, 2000.
COELHO,
Nelly Novaes Panorama histórico da literatura infantil/juvenil: das origens
indo-europeias ao Brasil contemporâneo. – Barueri, SP: Manoele, 2010.
COLOMER,
Teresa. Andar entre livros: a leitura literária na escola.; [tradução
Laura Sandroni]. São Paulo: Global, 2007. 1ª reimpressão, 2009.
FARIA,
Maria Alice. Como usar a Literatura Infantil na sala de aula. 5ª ed., 2ª
reimpressão. São Paulo. Editora Contexto, 2012.
GIL,Camila.
A
importância da leitura. Informativo
Interno EG em Foco, SP, Ano.2, n.3, p.4, 2013.
Itaú
Criança – disponível
em https://ww2.itau.com.br/itaucrianca/index.htm
último acesso: 15 de novembro de 2013 às 18h22.
JUNQUEIRA,
Sônia. Poesia na Varanda. - 1ª
ed. 1ª reimpressão. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2012.
MACHADO,
Ana Maria; ROCHA, Ruth. Contando histórias, formando leitores.
São Paulo. Editora Papirus 7 Mares, 2011.
MORAES,
Vinícius de. A Arca de Noé. São
Paulo: Companhia das Letrinhas, 2004.
NEVES,
André. Lino. São Paulo: Callis Ed., 2011.
PAOLA,
Tomie de. O Cavaleiro e o Dragão.:
tradução de Ana Maria Machado. São Paulo: Editora Moderna. 1999.
PRIETO,
Heloísa. Lá Vem História. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 1997.
ROCHA,
Ruth. Bom dia, todas as cores! – 18ª.ed. – São Paulo: Salamandra,
2013.
ROCHA,
Ruth. Elefante? São Paulo: Moderna, 2011.
ROCHA,
Ruth. O Coelhinho que não era de Páscoa. São Paulo: Salamandra, 2009.
SOUZA,
Ana A. Arguelho de. Literatura infantil na escola: a leitura em sala de aula. São
Paulo. Autores Associados, 2010. (Coleção formação de professores)
SOUZA,
Renata Junqueira de. (Organizadora) Caminhos para a formação do leitor.
– 1. ed. – São Paulo: DCL, 2004.
Nenhum comentário:
Postar um comentário