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quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Resenha - "A Criança e o Número" - Constance Kamii



“A Criança e o Número”
Constance Kamii – Editora Papirus

Introdução

Com base nas teorias de Piaget em relação ao ensino dos números paras as crianças, a autora Constance Kamii, em seu livro “A criança e o número” procura esclarecer as dúvidas recorrentes ao desenvolvimento da construção o conceito e da relação que a criança estabelece com os números nos anos iniciais.

No intuito de facilitar o entendimento desse processo, a obra é composta de quatro tópicos:

  1. A natureza do número;
  2. Objetivos para “ensinar” número;
  3. Princípios de ensino;
  4. Situações escolares que o professor pode usar para “ensinar” número.


1) A Natureza do Número

Para que possamos compreender melhor como funciona a aquisição do conhecimento, Piaget descreveu-as em três tipos, levando em consideração suas fontes básicas e o modo de sua estruturação como vemos a seguir:


  • ·         Conhecimento físico;
  • ·         Conhecimento lógico-matemático;
  • ·         Conhecimento social.

O conhecimento físico é aquele que faz parte da realidade externa, aqueles que podem ser notados por meio da observação.

O conhecimento lógico-matemático é o conhecimento adquirido ao comparar dois ou mais objetos estabelecendo relações de igual, diferente, maior e assim por diante.

O conhecimento social é o conhecimento que advém da cultura e das convenções da sociedade na qual a criança está inserida. Exemplo: 25 de Dezembro = Natal; 12 de Outubro = Dia das Crianças.

A característica principal do conhecimento social, segundo Piaget, “é que sua natureza é preponderantemente arbitrária”. (Kamii, 1990), pois nos exemplos citados, é notório que nem todas as culturas possuem essas datas comemorativas em seus calendários, logo não há qualquer relação física ou lógico-matemática entre o objeto e a sua denominação, pois conhecimentos como estes são passados de geração em geração, porém uma coisa, no fim, acaba tornando-se interdependente da outra, pois não poderíamos pensar em Natal ou Dia das Crianças sem classificá-los em relação aos demais dias do ano.

Piaget também fala sobre dois tipos de abstração:

  • A empírica (simples) onde a criança centraliza a sua atenção em certa característica ou propriedade do objeto em total detrimento do restante;
  • A reflexiva, que já envolve a análise de mais fatores relacionados aos objetos. Uma construção verdadeira feita pela mente que só é possível por que a criança já possui uma estrutura lógico-matemático que possibilita novas observações em relação ao conhecimento que ela já tem.

A teoria Piagentiana combate a ideia de que o conceito e a estrutura lógico-matemático do número não pode ser ensinada diretamente porque a criança tem que construí-la por si mesma.

2) Objetivos para “Ensinar” Número

A finalidade da educação deve ser a de desenvolver a autonomia da criança, que é indissociavelmente social, moral e intelectual”. (Kamii, pg.33)

A citação de Piaget na obra de Kamii indica que, para ele, o desenvolvimento da autonomia da criança deveria ser o foco da educação desde o princípio.

Entende-se por autonomia o ato de governar-se, andar por si só, o que é totalmente oposto à heteronomia que é ser governado, ou ser direcionado por outrem, prática ainda em uso por boa parte das escolas que em sua metodologia de ensino ainda aplicam subterfúgios como prêmios, estrelinhas, pontos positivos como compensações para aqueles que acertarem o maior número de respostas.

O que deve ser entendido é que o conceito de número não pode ser “ensinado” como se fosse algo automático, adestrado. O professor tem a missão de estimular o pensamento espontâneo da criança para incentivar a construção desse conceito de forma natural, sem traumas e eficaz.

3) Princípios de Ensino


  • A criação de todos os tipos de relações pela criança deve ser incentivada pelo educador. Deve-se levar em conta tudo: objetos, eventos, ações e todo o tipo de relação possível que possa existir e ser usado como item a ser estudado.
  •  A quantificação de objetos deve ser encorajada a todo instante, principalmente em ocasiões que façam algum sentido para a criança, que ela tenha necessidade disso ou tenha interesse. Exercícios de formação de conjuntos utilizando objetos móveis é uma boa tática.
  • A interação social com colegas e professores deve ser estimulada a todo o momento, pois a troca de ideias e o debate entre as crianças sem que o professor dê a resposta, ao invés disso, apenas direcione as crianças a perceberem por si todos os ângulos da situação no intuito de acharem a falha, é uma experiência enriquecedora para todos.


4) Situações Escolares que o Professor pode usar para “Ensinar” Número

É fornecido, pela autora, opções de atividades baseadas em jogos e na vida diária que facilitam o processo ensino-aprendizagem do conceito de número pelas crianças.

Tomando como atividades de vida diária nós temos as tarefas de distribuição e divisão de materiais entre os colegas de classe, votação entre outras.

Já no campo de jogos, o leque é mais amplo, visto que cada jogo pode ter as suas regras modificadas dependendo do objetivo pedagógico do professor, portanto nesse item, cabem todos os jogos aplicáveis para as crianças.

Considerações Finais

Como falado anteriormente, segundo Piaget, a forma ideal de educar uma criança é a de estimular o desenvolvimento de sua autonomia trocando pontos de vistas com os pequenos, evitando cair no erro de aplicar sanções que, de acordo com Kamii, possam acarretar em:

  • Cálculo de risco em que a criança passa a formular novas maneiras de infringir as regras com a intenção de ser descoberta ou mesmo sabendo que o será, pelo simples prazer que fazer algo que não pode;
  • Conformidade cega que faz com que os pequenos obedeçam indiscutivelmente os adultos simplesmente para evitar atritos e continuarem a ter o respeito deles;
  • Revolta que transforma uma criança de bom comportamento, em outra que faz o que bem entende, na hora e do jeito que quer, porém é importante ressaltar que rebeldia não é sinônimo de autonomia.

A autonomia moral é algo que deve ser construído interiormente pela criança partindo de seu relacionamento com o meio em que ela vive e embasada na relação de afeto e respeito mútuo entre a criança e o adulto.

A autonomia intelectual de uma pessoa ocorre quando ela está realmente convencida do seu erro e aceita, por fim, a solução do outro.

Exemplo: A melhor forma de fazer uma criança compreender que 4+2≠5 é perguntar à ela como foi que ela chegou a essa conclusão, pois será durante a explicação que a criança perceberá a falha, corrigindo por si só a resposta.

A construção da autonomia como finalidade maior da educação, não só facilita a assimilação dos conteúdos pelos alunos, mas, também, torna o professor um profissional mais eficaz no seu ofício de “ensinar”.




Bibliografia



 

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