“A Criança e o
Número”
Constance Kamii – Editora Papirus
Introdução
Com base nas teorias de
Piaget em relação ao ensino dos números paras as crianças, a autora Constance
Kamii, em seu livro “A criança e o número” procura esclarecer as dúvidas
recorrentes ao desenvolvimento da construção o conceito e da relação que a
criança estabelece com os números nos anos iniciais.
No intuito de facilitar o
entendimento desse processo, a obra é composta de quatro tópicos:
- A natureza do número;
- Objetivos para “ensinar” número;
- Princípios de ensino;
- Situações escolares que o professor pode usar para “ensinar” número.
1) A Natureza do Número
Para que possamos
compreender melhor como funciona a aquisição do conhecimento, Piaget
descreveu-as em três tipos, levando em consideração suas fontes básicas e o
modo de sua estruturação como vemos a seguir:
- · Conhecimento físico;
- · Conhecimento lógico-matemático;
- · Conhecimento social.
O conhecimento físico é
aquele que faz parte da realidade externa, aqueles que podem ser notados por
meio da observação.
O conhecimento
lógico-matemático é o conhecimento adquirido ao comparar dois ou mais objetos
estabelecendo relações de igual, diferente, maior e assim por diante.
O conhecimento social é o conhecimento
que advém da cultura e das convenções da sociedade na qual a criança está
inserida. Exemplo: 25 de Dezembro = Natal; 12 de Outubro = Dia das Crianças.
A característica principal
do conhecimento social, segundo Piaget, “é que sua natureza é preponderantemente
arbitrária”. (Kamii, 1990), pois nos exemplos citados, é notório que nem todas
as culturas possuem essas datas comemorativas em seus calendários, logo não há
qualquer relação física ou lógico-matemática entre o objeto e a sua denominação,
pois conhecimentos como estes são passados de geração em geração, porém uma
coisa, no fim, acaba tornando-se interdependente da outra, pois não poderíamos
pensar em Natal ou Dia das Crianças sem classificá-los em relação aos demais
dias do ano.
Piaget também fala sobre
dois tipos de abstração:
- A empírica (simples) onde a criança centraliza a sua atenção em certa característica ou propriedade do objeto em total detrimento do restante;
- A reflexiva, que já envolve a análise de mais fatores relacionados aos objetos. Uma construção verdadeira feita pela mente que só é possível por que a criança já possui uma estrutura lógico-matemático que possibilita novas observações em relação ao conhecimento que ela já tem.
A teoria Piagentiana combate
a ideia de que o conceito e a estrutura lógico-matemático do número não pode
ser ensinada diretamente porque a criança tem que construí-la por si mesma.
2) Objetivos para “Ensinar” Número
“A finalidade da educação deve ser a de desenvolver a autonomia da
criança, que é indissociavelmente social, moral e intelectual”. (Kamii,
pg.33)
A citação de Piaget na obra
de Kamii indica que, para ele, o desenvolvimento da autonomia da criança
deveria ser o foco da educação desde o princípio.
Entende-se por autonomia o
ato de governar-se, andar por si só, o que é totalmente oposto à heteronomia
que é ser governado, ou ser direcionado por outrem, prática ainda em uso por
boa parte das escolas que em sua metodologia de ensino ainda aplicam
subterfúgios como prêmios, estrelinhas, pontos positivos como compensações para
aqueles que acertarem o maior número de respostas.
O que deve ser entendido é
que o conceito de número não pode ser “ensinado” como se fosse algo automático,
adestrado. O professor tem a missão de estimular o pensamento espontâneo da
criança para incentivar a construção desse conceito de forma natural, sem
traumas e eficaz.
3) Princípios de Ensino
- A criação de todos os tipos de relações pela criança deve ser incentivada pelo educador. Deve-se levar em conta tudo: objetos, eventos, ações e todo o tipo de relação possível que possa existir e ser usado como item a ser estudado.
- A quantificação de objetos deve ser encorajada a todo instante, principalmente em ocasiões que façam algum sentido para a criança, que ela tenha necessidade disso ou tenha interesse. Exercícios de formação de conjuntos utilizando objetos móveis é uma boa tática.
- A interação social com colegas e professores deve ser estimulada a todo o momento, pois a troca de ideias e o debate entre as crianças sem que o professor dê a resposta, ao invés disso, apenas direcione as crianças a perceberem por si todos os ângulos da situação no intuito de acharem a falha, é uma experiência enriquecedora para todos.
4) Situações Escolares que o Professor
pode usar para “Ensinar” Número
É fornecido, pela autora,
opções de atividades baseadas em jogos e na vida diária que facilitam o
processo ensino-aprendizagem do conceito de número pelas crianças.
Tomando como atividades de
vida diária nós temos as tarefas de distribuição e divisão de materiais entre
os colegas de classe, votação entre outras.
Já no campo de jogos, o
leque é mais amplo, visto que cada jogo pode ter as suas regras modificadas
dependendo do objetivo pedagógico do professor, portanto nesse item, cabem
todos os jogos aplicáveis para as crianças.
Considerações Finais
Como falado anteriormente,
segundo Piaget, a forma ideal de educar uma criança é a de estimular o
desenvolvimento de sua autonomia trocando pontos de vistas com os pequenos,
evitando cair no erro de aplicar sanções que, de acordo com Kamii, possam
acarretar em:
- Cálculo de risco em que a criança passa a formular novas maneiras de infringir as regras com a intenção de ser descoberta ou mesmo sabendo que o será, pelo simples prazer que fazer algo que não pode;
- Conformidade cega que faz com que os pequenos obedeçam indiscutivelmente os adultos simplesmente para evitar atritos e continuarem a ter o respeito deles;
- Revolta que transforma uma criança de bom comportamento, em outra que faz o que bem entende, na hora e do jeito que quer, porém é importante ressaltar que rebeldia não é sinônimo de autonomia.
A autonomia moral é algo que
deve ser construído interiormente pela criança partindo de seu relacionamento
com o meio em que ela vive e embasada na relação de afeto e respeito mútuo
entre a criança e o adulto.
A autonomia intelectual de
uma pessoa ocorre quando ela está realmente convencida do seu erro e aceita,
por fim, a solução do outro.
Exemplo: A melhor forma de
fazer uma criança compreender que 4+2≠5 é perguntar à ela como foi que ela
chegou a essa conclusão, pois será durante a explicação que a criança perceberá
a falha, corrigindo por si só a resposta.
A construção da autonomia
como finalidade maior da educação, não só facilita a assimilação dos conteúdos
pelos alunos, mas, também, torna o professor um profissional mais eficaz no seu
ofício de “ensinar”.
Bibliografia
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